quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Os sonhos acabam em dezembro



Dezembro é um mês meio emblemático...
É o último mês do ano..parece um mês enfiado num vácuo entre o fim e o início... Explico: o ano "realmente" acaba é em novembro...sim, pois é até este mês que realmente levamos a termo e ainda realizamos coisas e projetos. Em dezembro, o que vemos é somente encerramentos e protelamentos para o próximo ano daquilo que não terminamos ou nem começamos.
Sem dizer que a partir da terceira semana de dezembro as coisas realmente complicam em função das festas de natal e fim-de-ano... Daí o caos se instala a fim de que uma horda de "barbaros" consumistas invadam lojas e ponham tudo a baixo em busca alucinada de presentes...
Acho que é especificamente em dezembro, que nos danos conta daquilo qu nao fizemos, fizemos ou tinhamos vontade de ter feito. São os famosos "balanços de fim-de-ano"....
Talvez isto que explica o porquê do o sonho acabar em dezembro: é quando percebemos que o tempo passou e ainda não realizamos o que queriamos...
Mas enfim, depois do ocaso vem o nascer resplandescente de um novo dia...E é isto que nos empurra ano a ano, pelas decadas a continuar a realizar nossos sonhos.

Mas também há de se registrar, que em um dia como o de hoje, num 08 de dezembro de 1980, a trinta anos atrás um cidadão comum (será?) foi até a frente do Edificio Dakota em Nova York e sepultou definitivamente um dos maiores sonhos de gerações...
O cidadão em questão, Mark Chapman, após pedir um autografo, o qual foi dado, assinado na capa do Disco "Double Fantasy", simplesmente matou a tiros John Lennon, que caiu cambaleante na rua, a poucos metros da entrada do seu prédio...
Imagina o que não deve ter pensado Lennon naqueles minutos de agonia...
Será que pensou: porque?? ou Porque Eu?? ou ainda, "Será que era eu que ele queria matar? Quem é este cara?? ...
O fato que o imbecil que matou John Lennon, não só matou um homem, matou junto, um sonho pop, um sonho da arte moderna...
Quanto a importância de John Lennon como artista esta é inegavel, sendo que sua notoriedade dentro e fora dos Beatles, concorrem em importância tal qual Paul Maccartney, embora não possamos falar o mesmo sobre George e Ringo, onde este último, após o final do Beatles manteve apático e sempre com aquela postura de bobo alegre e de bom camarada, enquanto George, ao contrário, tornou-se mais profílico artísticamente após os o fim dos Beatles, livre do jugo dos egos de John e Paul.
John Lennon foi um artísta muito mais ácido que Paul, com quem fazia um contrabalanço agri-doce das melodias lindas e doces de Paul com o brado mais desbravador e roqueiro de John, faceta esta que se vê bastante em sua carreira solo.
Embora devemos ser criticos em afirmar também, que Lennon após o fim dos Beatles e antes mesmo já proximo da dissolução da banda, encontrava-se num estado lastimável com relação a dependência de drogas...
Vivia "doido" de heroína e tinha crises de pânico e uma necessidade absurda da presença de sua mulher, a Japa Yoko Ono. Durante as gravações e ensaios da banda (dá pra ver no filme "Let Be" a japa sempre estava presente e Lennon sempre procurando Yono com os olhos) a figura de Yoko é uma constante (Dizem que ela foi a culpada, rs...do fim dos Beatles..aquela chata sempre ali...rs..).
No entanto, Lennon em sua carreira solo, fora as doideiras, tem um viés muito mais político que poético, na verdade, é o ativista político que se sobressaí mais que o artista, vemos Lennon e Yoko Ono atuando em campanhas contra a guerra do Vietnã, em prol da paz (as famosas fotos - Ugh- dos dois pelados, entrevistas em cama, etc.), oposição ao Governo do então Presidente Nixon e até mesmo apoio ao partido (radical) dos Panteras Negras, tudo isto morando nos EUA, o que levou a um processo de extradição da America.
Este desgaste culminou com John Lennon abandonando a musica e outras atividades publicas e concentrar-se no papel de pai, ja que seu filho Sean havia nascido em 1975 e John já havia conseguido em definitivo sua permanencia nos EUA. Este hiato artístico manteve-se até 1980 com a gravação de "Double Fantasy" junto com Yoko. Momento em que Lennon se sentia-se feliz até aquele dia 08 de dezembro quando caminhava de volta para seu apartamento no Edificio DaKota e encontro seu algoz, Chapman.
Embora o mundo cultural proseguisse efervecente culturalmente nos emergentes anos 80, ficou uma lacuna e uma ferida jamais fechada totalmente, sem Lennon. Como seria John Lennon nos dias de hoje, vendo este mundo tão diferente daqueles já distantes tempos em que habitava este plano? Que exercício interessante de especulação...levando-se a personalidade libertária de Lennon...será que estaria como Paul? estaria pelo menos nas mesmas condições fisicas (ou até mesmo vivo ainda) que paul?...rs...Visto que Lennon era muito mais "pé na jaca" que MacCartney...Continuaria mordaz, acido e politico? Ou seria um velho artísta anacrônico (mas sempre relevante), hermitão retirado do mundo "enojante" de celebridades? Bom...nunca saberemos...O fato é que agora Lennon é um ícone que transcendeu a musica, está enraizado culturalmente (virou até moeda no Reino Unido), deixou de ser Celebridade e passou a ser icone cultural. Mas aquele sonho.....
Eu já tive a honra ser comtemporâneo e testemunha ocular de realizações de grande sonhos ...Eu vi cair o muro de Berlim e parecia um sonho intangivel, as eleições diretas, uma nova Constituição Federal, fim da guerra fria, conquista espacial, telescópio Hubble, etc...

No mundo pop e musical, também tive a honra de ver o Pink Floyd reunido depois de anos de separação, a volta do vocalista classico Rob Halford novamente pilotando a moto do Judas Priest...O Iron Maiden novamente com seu melhor cantor, o Bruce Dickinson...A reunião quase mítica do Black Sabbath aconteceu...o Deep Purple retornou com sua formação clássica ( Blackmore e Gillan dividindo o mesmo palco) mas depois se esfacelou de novo e continua até hoje com outra formaçao, etc..
Ou seja, vimos no campo da música retornos triunfais acontecerem entre tantos outros ícones do mundo pop e do Rock...mas...jamais ...jamais conseguimos ver uma reunião (tão sonhada) dos Beatles...pois fomos acordados cedos demais deste sonho (30 anos atrás)....Claro que agora sei que outro Beatle (George Harrison) também já é falecido...mas vejam: esta oportunidade já nos foi tirada há trinta anos atrás...que pena!
Naquela época minha geração ainda era uma promessa...e as jovens e vigentes gerações da época envelheceram com o gosto amargo daquele dia de dezembro.
Penso eu que, muitas vezes, esperamos e deixamos de retomar certas coisas sensacionais e "clássicas" por puro ego e por ter a sensação de temos todo o tempo do mundo...
O ser humano e sua sensação de "infinitude" deixa para depois suas pendências e impõe um eterno afastamento..até que nem se saiba mais porque este existe...sua origem e razão deixou-se de ser relevante ou sabido...soterrados pelo tempo que tudo deixa grisalho e sem brilho.
Em nossas vidas particulares temos várias destas cisões...rompemos, ignoramos e damos as costas para coisas, pessoas, situações que eram importantes...por desinteresses, por confrontos de idéias ou mesmo desentendimentos...
Muitas vezes aquela "formação classica" nunca mais se recompõe....e a morte, tal qual um foice vem e sepulta de vez aquilo que ficou na promessa, ou quem sabe um dia...e o sonho acaba...Pois a magia só funciona na completude do que lhe tornou mágico....ou seja, Beatles só voltaria a ser Beatles se John Lennon estivesse vivo...a esperança ainda existiria! (Existiu com Pink Floyd, embora seja outro sonho sepultado pois o tecladista também faleceu)..
Assim...repito: "A magia só funciona quando todos elementos que tornaram algo mágico estão presentes" ...Depois será apenas uma ilusão, um simulacro, mas não mais a magia primordial e original...
Oportunamente comento também, um lançamento muito legal, só que desta vez no cinema: o filme (como nao poderia deixar de ser) : O garoto de Liverpool !!
Este filme retrata a vida do Joven John Lennon, ainda adolescente, nos primordios do rock n´roll, antes de existir os Beatles, quando o jovem Lennon encontra e junta esforços com outros dois garotos (Paul e George) para formarem uma banda (nao, nao era os Beatles ainda...) e lançarem-se ao sucesso.
O filme com tom mais intimista e psicologico ( e não musical) leva em consideração a figura da mãe de Lennon em um aspecto que nunca ficou muito resolvido na vida de Lennon (basta lembrar a musica "Mother" de John), pois esta o abandonou, sendo então criado por sua tia.
Lennon vive neste período fascinado pelo seu ídolo e que reinava absoluto no mundo "teen" dos anos 50: Elvis Presley...Ídolo que Lennon anos depois conheceu pessoalmente e mas posteriormente o rejeitou-o considerando-no "vendido ao sistema" ( "Elvis morreu quando entrou para o Exercito" - dizia Lennon).
Enfim, é um filme que mostra o Jovem Lennon com seus dilemas pessoais ( e familiares) de adolescente naqueles anos dourados de rock´n roll juntamente com aquele que seria sua "metade da maçã" (apple...rs) musical, Paul Maccartney formando ainda com George Harryson, sua primeira banda The Quarrymen.

O Garoto de Liverpool, (Nowhere Boy - titulo original em Ingês) é uma produção de 2009, dirigida pela Diretora Sam Taylor Wood (o fato de ser mulher, será que é a resposta pra justificar esta abordagem sobre a mãe do cara e nao tanto no contexto musical? )
Nowhere Boy -Reino Unido, Canadá , 2009 - 98 min
Biografia / Drama
Direção:
Sam Taylor Wood
Roteiro:
Matt Greenhalgh
Elenco:
Aaron Johnson, Anne-Marie Duff, Kristin Scott Thomas, Thomas Sangster, David Threlfall, Josh Bolt, Sam Bell